Era uma vez a escrita…
Por: Cristina Vergnano
Dedico este texto a todas as crianças que embarcaram, estão embarcando ou vão começar a embarcar nessa maravilhosa aventura da escrita!
Há muito, muito, muito tempo atrás, as pessoas já se comunicavam, mas não tinham inventado a escrita. Elas, então, só podiam mesmo falar umas com as outras, ou pensar consigo mesmas. Mas gente tem ideias, não é?! E essas ideias não ficam só nas nossas cabecinhas. Gostam de correr por aí e de ficar guardadas para o futuro.
Com o tempo, as pessoas começaram a arrumar formas de colocar essas ideias registradas. Não era escrita ainda, mas deixava uma lembrança do que se pensava, do que se fazia, do que se falava, do que se inventava. A gente pode ver umas pinturas nas cavernas (as pinturas rupestres), da época em que os homens e mulheres viviam nelas, que mostram cenas de caça. Era como uma história em quadrinhos, contando como essas pessoas agiam. Tem gente estudiosa que diz que essas pinturas tinham um sentido religioso ou mágico, desejando uma boa caçada. (Se você quiser saber mais e ver mais sobre essas pinturas, pode procurar na internet em: https://www.portaldarte.com.br/pinturarupestre.htm ou https://www.infoescola.com/artes/arte-rupestre/ ou https://www.todamateria.com.br/arte-rupestre/ ou https://brasilescola.uol.com.br/historiag/a-arte-rupestre.htm ou https://www.educamaisbrasil.com.br/enem/artes/arte-rupestre . Aproveite! Divirta-se com as descobertas!)
Alguns povos, muitos anos mais tarde, começaram a inventar uma forma de guardar para outras pessoas ou para o futuro o que faziam, pensavam, desejavam. Um jeito que fosse mais fácil de usar e que servisse para muita gente diferente compreender. Assim foi surgindo a escrita.
Uns cientistas, que estudam as palavras e os povos, dizem que as primeiras escritas podem ter surgido fazendo mais simples os desenhos que antes eram usados para representar coisas, palavras e pensamentos. Pode ser… Faz todo o sentido… O fato é que escrever não é só representar o que se fala, mas criar também. …E criar coisas que foram pensadas para serem escritas logo de cara! Até sem serem faladas antes!
Existem várias formas de escrita. Algumas, como na língua chinesa, usam desenhos que representam palavras ou ideias. São o que nós chamamos de ideogramas, justamente porque cada um representa uma ideia completa. Imagine que complicado! Para ler um jornal do dia a dia, a pessoa deve conhecer uns três mil desses ideogramas. São muitos, não é?!
A língua japonesa, por sua vez, também tem ideogramas, mas o seu povo criou, igualmente, uma outra representação mais simples que mostra as sílabas. Isso facilita bastante, porque basta combinar as sílabas para formar as palavras! É menos coisa para guardar na cabeça!!!
3 exemplos de sílabas do silabário japonês, o “hiragana”. Fonte: https://www.danjou.com.br/post/2017/09/05/as-diferen%C3%A7as-entre-hiragana-katakana-kanji Publicado em 5/9/2017.
Se pensarmos sobre isso, vemos que a invenção do alfabeto foi uma coisa genial!!!! Porque, com poucas letrinhas, podemos dizer e escrever qualquer coisa que desejemos. Fica bem mais fácil saber de memória e aprender a usar, não é?! Ele é uma ferramenta mesmo muito poderosa!!!! Vamos ver, então…
Existem diferentes alfabetos no mundo. O nosso, o que usamos, se chama assim (alfabeto) por causa das primeiras letras de outro alfabeto, o grego: alfa e beta. Então, o conjunto de letras que utilizamos seria aquele que se inicia por essas tais duas letrinhas, no nosso caso, “a” e “b”. Temos hoje 26 letras no alfabeto: a, b, c, d, e, f, g, h, i, j, k, l, m, n, o, p, q, r, s, t, u, v, w, x, y, z. Dessas 26, 5 são as vogais e as outras 21 são consoantes.
Até parece que as 5 vogais que são, coitadinhas, tão poucas, têm, por isso, menos importância, né?! Engano seu!!!! Elas são as únicas que podem soar sozinhas!!! Isso mesmo! Só conseguimos dizer em voz alta, sem qualquer outro apoio, uma vogal! Quer ver?!
Imagine que você esqueceu o trabalho de casa em cima da mesa. Abre a sua mochila e…
– “I”… Esqueci o trabalho!
Agora, lembre de quando a professora faz aquela pergunta difícil e você fica pensando… Daí alguém dá a resposta e você entende tudo:
– “A”!!!!! Agora entendi!
Ou, quando você olha para o céu e vê um monte de lindos fogos de artifício e fica com aquela cara de assombro:
– “O”!!! Que lindo!
E quando você dá uma topada com o dedão do pé na cadeira?!?
– Ai! Ui! Que dor!!!
Pois é!… As consoantes, ao contrário, são aquelas que soam junto. Só conseguimos falar qualquer uma delas quando estão acompanhadas de alguma vogal.
Cada vez que abrimos a boca para falar, usamos esses sons que representamos na escrita com as letras: as vogais e as consoantes. Com elas, com essas 26 apenas, formamos uma quantidade enorme de sílabas. E com as sílabas, dizemos as palavras, as frases, os textos… Cada vez que abrimos a boca, emitimos os sons da fala e fechamos de novo, dizemos uma sílaba.
Podemos pensar nas sílabas como montanhas. Cada sílaba, uma montanha. Subindo e descendo, subindo e descendo… A gente sobe a montanha de mãos vazias ou não. E o que isso quer dizer? Que podemos subir a montanha com uma consoante, por exemplo, ou com uma semivogal.
Ih!!! Agora complicou!!!! O que é essa tal semivogal?
É uma daquelas 5 vogais que não consegue subir no alto da montanha, fica na subida ou na descida, ajudando e se juntando com a vogal lá de cima. Mas só o “i” e o “u” podem ser semivogais, certo?!
Pois é isso mesmo! Resumindo, lá em cima da montanha, sempre tem uma vogal. Só as vogais ficam no alto da montanha! As outras letras a acompanham antes ou depois dela.
Isso quer dizer que, quando falamos e quando escrevemos, temos sempre 1 vogal em cada sílaba. Aquela do alto da montanha, que dá força à sílaba. Mas também podemos ter as acompanhantes: 1 consoante, 2 consoantes ou 1 semivogal na subida, dando as mãos para a vogal lá de cima. E podemos ter outra consoante ou semivogal na descida também. Por isso temos sílabas tão diferentes. Algumas só com uma vogal… outras com uma consoante e uma vogal… algumas com duas consoantes e uma vogal… outras com uma consoante, uma semivogal e uma vogal… outras com vogal e consoante… ou vogal e semivogal… ou vogal, semivogal e consoante… ou com consoante, vogal, consoante… Muitas combinações!!!! Nossa!!!! Que coisa mais rica!!! Dá para escrever e falar tanto dessa maneira!!!! Veja só:
Agora é a sua vez de tentar. Claro que escrever não é só juntar letrinhas… E conhecer o alfabeto, as sílabas e como uni-las para formar palavras é só o começo. Mas é a primeira chave que abre uma porta de maravilhas! Não é tão difícil quando se pega o jeitinho…
Brincar com as palavras é um jogo legal! E bem antigo! Misture as letras, construa sílabas e palavras, imagine frases e crie belos textos. E, sabendo as regrinhas básicas, a gente até fica livre para inventar!… Para combinar as muitas ideias, pensamentos e sonhos que vivem nas nossas cabecinhas e todas as coisas incríveis que estão aí pelo mundo.
Experimente. Crie e compartilhe com os outros o que você conseguir criar. Você, menina, você, menino, vai ficar viciada/viciado nesse jogo fantástico!
Pingback: Leitura em tempos de tecnologias digitais: parte 1 – Tecendo o verbo
Pois é, Jak… muita gente tem mesmo pânico pela escrita. Mas, mesmo sendo algo aprendido, cultural, não natural, não deveria ser assim. A comunicação faz parte de nós, pois somos seres sociais. A escrita, entre outras coisas, é uma tecnologia de comunicação. Sendo assim, é afim a nosso jeito de ser, ainda que requeira aprendizado e estudo.
Este texto, eu o escrevi inspirada pela situação da filha de uma moça que trabalha para a minha irmã. A menina é inteligente, no entanto, foi prejudicada pelo sistema de ensino público. Este que, muitas vezes, desconsidera sua importância e a obrigação moral e social de dar a todas as crianças e jovens equivalentes recursos e estímulos, como dos que dispõem os mais favorecidos economicamente. Ela tem sérias dificuldades na leitura e na escrita por decisões equivocadas quanto à sua progressão escolar e orientação na formação…A escola deveria, sim, permitir que seus alunos todos se sentissem poderosos e satisfeitos com seu manejo dos conhecimentos (como a sua aluninha de alfabetização desejava e sonhava ser).
Pensei, portanto, nos aspectos que desenvolvo no artigo como uma forma de estimular e guiar professores e alunos na exploração do maravilhoso mundo da escrita (e, por que não, da leitura). Fico feliz que você tenha gostado e que possa encontrar alguma utilidade prática para ele. A professora em mim, nunca abandonada de todo, agradece a chance de poder continuar contribuindo para a educação.
Adorei texto! Bem didático…vou levar pra sala…é bem motivador também, pois os adolescentes têm medo de escrever (muita gente tem medo). Lembro-me de uma menininha que alfabetizei…ela disse:”tia, quando eu aprender a escrever, eu vou ser poderosa, né?” Ao ler esse texto me senti na sala de aula. Parabéns!