Série Reflexões na Semana Santa: Ele ressuscitou! Ele Vive! Aleluia!
Por: Cristina Vergnano
Dentro dos ritos e da espiritualidade cristã (católica), a conclusão do Tríduo Pascal, no Sábado Santo, é marcada, diria eu, por dois momentos (ou movimentos). Durante o dia, silêncio e oração demonstram a permanência dos cristãos em expectativa, “próximos” ao sepulcro de Jesus, aguardando sua ressurreição. À noite, a celebração da Solene Vigília Pascal, traz a exclamação de aleluia, a festa da luz, quando a vida se manifesta em toda a sua força, renovada para todos e todas, na ressurreição do Cristo que vence a morte. As festividades da Páscoa do Senhor começam nesta celebração, seguem pelo Domingo da Ressurreição e se prolongam nas Oitavas de Páscoa (no domingo seguinte) e por 50 dias, até a festa de Pentecostes, quando a promessa de Jesus da vinda do Espírito Santo se concretiza.
Para mim, a cerimônia da Vigília Pascal é a mais bela, cheia de simbologia e religiosidade. É uma missa longa, que se inicia com a bênção do fogo novo, representando a Luz de Jesus, seguida da Proclamação da Páscoa e de uma liturgia da palavra que percorre todo o caminho da salvação, com 16 leituras. Parte-se do Gênesis (com os textos sobre a criação e sobre a aliança entre Deus e Abraão), passando pelo Êxodo (com a fuga dos hebreus pelo mar Vermelho e a derrota do exército do faraó) e por profecias de diferentes profetas (Isaías, Baruc, Ezequiel), tudo entremeado por 7 Salmos. Após o canto do Glória, chega-se à carta de São Paulo, esclarecendo que Jesus ressuscitado já não morre e nos traz a vida e, finalmente, ao Evangelho, com a notícia da ressurreição. Seguem-se a Ladainha de Todos os Santos, a bênção da água que nos purifica, a renovação das promessas batismais e as preces da e pela comunidade, para culminar com a Oração Eucarística e o Rito da Comunhão. Termina-se com a bênção final, que encerra o Tríduo Pascal começado na missa vespertina da Quinta-feira Santa.
O Evangelho da noite da Vigília (Mt 28, 1-10) nos mostra como algumas das mulheres, que acompanhavam o Mestre, vão ao seu túmulo no amanhecer do domingo posterior à Páscoa, e descobrem que seu corpo já não estava lá. A princípio, elas se mantêm temerosas, mas o medo e a angústia iniciais dão lugar à felicidade e manifestação da fé, quando são lembradas das palavras de Jesus sobre sua ressurreição no terceiro dia. São elas que recebem em primeira mão a boa nova da ressurreição e a missão de levá-la aos discípulos. Interessante observar como é dada essa honra às representantes femininas dos seguidores do Nazareno. Tenhamos em conta que, naquela época e lugar, as mulheres não tinham um alto valor social. Na comunidade que Jesus desejava ver constituída, contudo, baseada no amor, na igualdade, fraternidade, solidariedade e respeito, elas eram membros do corpo, valiosas como qualquer outro, cada qual com suas funções. E a elas é dado o papel de portadoras da mensagem salvadora.
Mas a Boa Nova o é para toda a humanidade, sejam as pessoas crentes ou não. E há um motivo para tal… Mesmo não acreditando que Jesus de Nazaré tenha ressuscitado, que seja Deus, fazendo coro com aqueles que duvidaram na época ou espalharam acusações de roubo do corpo para criar um fato, a mensagem em si tem um valor inestimável. Pensemos bem… O que o Mestre pregava? Que vivêssemos no amor, pois esta era a chave para a cura de todos os males.
Quando amamos, perdoamos, somos solidários, nos unimos aos demais, buscamos construir a harmonia, entendemos que somos um em nossa diversidade. Ainda que não se acredite numa vida após a morte, numa possibilidade de ressurreição, na alma imortal, todos queremos viver, ao menos, um “paraíso” na Terra. E o verdadeiro paraíso não está composto de bens materiais, de dinheiro, posição, prestígio, poder, porque já está provado que tudo isso passa, que as vantagens dessa natureza mudam constantemente de mãos. Mas os valores espirituais e, principalmente, a fraternidade manifestada no amor ao outro, estes perduram e são fonte de paz. Se vivemos em paz, ainda que no centro da tormenta, alcançamos a verdadeira e plena felicidade, em comunhão com os demais.
Por isso, neste tempo pascal, quero desejar a paz, o bem e o amor a cristãos e a não cristãos, porque, em última análise, somos interligados e o bem de cada um reverbera e se multiplica entre todos e todas nós. Dessa forma, alcançaremos a plenitude, independentemente da crença em recompensas futuras, desde já. Feliz Páscoa!