Professora/professor: uma profissão a ser festejada (apesar dos pesares)!
Por: Cristina Vergnano
Hoje, 15 de outubro, comemoramos o dia do/da professor/professora. Apesar da data, não podemos dizer que a profissão esteja entre aquelas socialmente (mais) prestigiadas nos tempos atuais. Quando eu era criança, e bem antes até, o cenário parecia ser um pouco diferente. Havia toda uma visão positiva e romântica sobre as professoras, como nos aponta, de modo ingênuo, o samba de Benedito Lacerda e Jorge Faraj, “Professora”, gravado por Sílvio Caldas. E, como já disse aqui no blog no ano passado (ver a digicrônica “Feliz dia… professora!”), eu mesma, criança, achava que professora era um ser tão especial que não fazia coisas mundanas, como ir à feira, por exemplo! Imaginem só!!!… Docentes eram enaltecidos, homenageados, respeitados por alunos e pais. Mas, seria de fato assim?!?
Romantismo não garante reconhecimento. Na sua origem, o pedagogo (pedagogia vem do grego: paidós, ou seja, criança + agogé, que significa condução) era o escravo que guiava os meninos, seu preceptor. Assim, apesar de ter uma função de mestre, esse indivíduo não era uma pessoa livre. Outro dado histórico interessante é que os primeiros a se encarregarem da educação no Brasil foram padres jesuítas. Daí, talvez, a percepção que relaciona magistério a sacerdócio. Também devemos considerar que, aqui, a maioria dos docentes no Ensino Básico na atualidade está composta por mulheres, embora no Ensino Superior haja mais homens. Tenhamos em conta, ainda, como uma consequência disso, que os salários femininos costumam ser mais baixos em várias sociedades do planeta (na nossa inclusive). Isso pode contribuir para reforçar a má remuneração da carreira do magistério, em especial a pré-universitária.
A educação é um elemento vital para a construção de uma sociedade. Nisso, creio, estamos de acordo (a maioria de nós, ao menos). E, por conseguinte, os agentes que atuam no processo educativo deveriam ter destaque e reconhecimento, certo?! Então, por que ser professor ou professora não é considerado fator de status para muita gente? Por que ainda ouvimos o chavão preconceituoso: “quem sabe faz, quem não sabe ensina?” (sobre ele, aliás, encontrei um artigo que discute a frase e vários desdobramentos da mesma sob o ponto de vista interpretativo).
Numa perspectiva capitalista, suponho que os baixos salários comprometam o prestígio profissional. Em termos ideológicos, é possível que a crença de que tal atividade se associe a uma vocação e um sacerdócio, uma entrega de si, abale a conscientização de todo o aspecto técnico que envolve e todo o estudo e preparação que demanda. Ainda há as posições que consideram o processo educativo como perigoso, ao ser libertador e capaz de dotar os indivíduos de capacidade crítica e do poder que advém daí. Nesse sentido, desmerecer o trabalho docente contribuiria para enfraquecer uma massa de cidadãos que poderiam transformar a sociedade a partir de seu esclarecimento.
A temática, porém, é por demais complexa para ser esgotada num pequeno artigo. Os problemas são reais. A desvalorização da profissão é sentida por mulheres e homens que passam anos dedicando-se à sua formação (inicial e continuada) e abraçam com compromisso sua tarefa de educar e formar. Não é possível compensar tudo com uma data, algumas palavras bonitas, uns presentes de ocasião. No entanto, vale a pena sempre trazer o tema à baila. Destacar o quão poderosos e poderosas são esses profissionais, quando se dedicam profundamente ao seu labor. Não são sacerdotes, não são filantropos, não são extensão das mães e pais dos seus alunos. Constituem um contingente de indivíduos que investem numa carreira, a qual é tão vital para a saúde das mentes e da sociedade, quanto os médicos, enfermeiros, nutricionistas, fisioterapeutas o são para os corpos. Por isso mesmo, eu, que durante 35 anos exerci a profissão com dedicação e orgulho, hoje parabenizo minhas e meus colegas. Espero que chegue o dia em que não sejam apenas as palavras bonitas que nos reconheçam.