A Mãe-de-ouro e o caso do menino de Minas
Por: Cristina Vergnano
Para minhas sobrinhas e sobrinhos, minhas priminhas e priminhos e para cada um de nós que conserva uma criança no coração!
Numa cidadezinha bem pequena e esquecida, no interior de Minas Gerais, há muito, muito tempo atrás, vivia um menino bem pobre, o Juca. Ele era uma criança feliz, apesar das dificuldades, porque se sentia amado pela família e a natureza à sua volta era linda, sempre permitindo descobrir algo novo e maravilhoso. O garoto, porém, precisava trabalhar para ajudar em casa, sobrando pouco tempo livre. Isso era bastante comum naquela época e naquele lugar.
Seu patrão era um homem rico, pão-duro, grosseiro, que se aproveitava de todo mundo. Nunca estava satisfeito com o que tinha. Sempre queria mais. Por isso, o coitado do Juca não tinha sossego. Quanto mais trabalhava, mais o patrão o obrigava a trabalhar. E pagava muito pouquinho mesmo! Uma injustiça!
Numa noite, cansado de tanto esforço, o menino sentou-se do lado de fora da sua casinha com a família, perto da fogueira, para ouvir os casos que o velho avô contava. Algumas eram histórias de arrepiar o cabelo; outras, até que bem engraçadas.
Antes de começar, porém, o vovô Tonho percebeu como o netinho estava triste e batendo cabeça de sono. Perguntou-lhe o que estava acontecendo. O garoto falou, então, das malvadezas do patrão.
Vô Tonho parou, coçou o queixo, pensou… Depois começou:
– Isso me lembra uma história que eu ouvi do meu avô, quando eu era moleque pequeno que nem você, Juca!
– É, vô?!? Conta, vai! Conta!!!!
– Nos tempos do fim da corrida do ouro, aqui no interior de Minas, dizem que a Mãe-de-ouro aparecia para confundir os mineiros e proteger os tesouros da terra, porque os homens estavam muito gananciosos, roubando todas as riquezas do chão e destruindo a natureza.
– E quem era ela? Como ela era?
– Ih!!!! Era uma moça danada de bonita! Com os cabelos dourados da cor do ouro e a pele morena como o chão de barro. Ela andava voando pelo céu, como uma bola de fogo, só para procurar e encontrar o lugar dos tesouros que queria proteger. Depois, enganava os mineiros e eles iam parar em outros cantos, bem longe da riqueza! Às vezes se perdiam e nunca mais ninguém sabia deles… principalmente os mais malvados e egoístas.
O pequeno Juca, depois dessa noite, ficou sempre olhando para o céu, antes de cair no sono, procurando a tal bola de fogo da Mãe-de-ouro. Certa madrugada, bastante sonolento, viu uma moça muito bonita, com longos cabelos dourados encaracolados, quase até os pés. Ela era tão gentil e delicada! Sorriu e disse, quando ele arregalou os olhos:
– Juca, meu menino… sei no que você anda pensando… sei que tem procurado por mim… Escute com atenção: os tesouros da terra precisam ser protegidos! Há pessoas que querem tudo e deixam os outros sem nada. Mas, você sabe, existem riquezas maiores, que não se compram com ouro. Muitos desses caça-tesouros nunca conseguiram encontrar isso, essa felicidade! Você já achará uma forma de realizar seus sonhos sem precisar imitá-los.
– Mas o meu patrão…
– Eu sei! Ele é muito egoísta, quer tudo para si. Vou dar-lhe uma boa lição! Só que você precisa esquecer essas ideias que estão passando pela sua cabecinha. Ideias de procurar tesouros e se tornar uma cópia desse patrão de quem você tem tanto medo.
– E o que eu devo fazer?
– Nada de mais…. Apenas conte ao homem a história que você ouviu do seu avô Tonho… Que eu indico o lugar dos tesouros da terra, quando voo pelo céu na forma de uma bola de fogo. O resto, eu mesma faço.
Juca, fez o que a Mãe-de-ouro lhe pediu. No dia seguinte, como quem não queria nada, falou para o patrão sobre a moça que encontrava tesouros sob a forma de bola de fogo no céu. E o homem, ganancioso como era, passou a procurar a criatura mágica todas as noites.
Aconteceu que uma chuva de meteoros cobriu o céu noturno, num certo mês de julho. Caiu lá para os lados da Serra da Saudade. O homem acompanhou tudo com olhos brilhantes, já contando com o tesouro enorme que encontraria naquela lonjura solitária. Isso porque, entre os meteoros, ele podia jurar que tinha visto a bola de fogo da Mãe-de-ouro.
Naturalmente, não contou nada para ninguém… Seu desejo louco por riquezas era tão forte que arrumou as trouxas, botou tudo sobre um burro (coitado!), colocou a sela no seu cavalo, trancou a casa grande onde morava, a loja e tudo o mais e partiu, naquela mesma noite, rumo ao tesouro.
Ninguém nunca mais soube dele! Um dia, contudo, uma moça bonita de longos cabelos dourados e pele morena foi morar na casa do tal homem. Apresentou-se como sua sobrinha e disse que sentia muita pena de não ver o tio. Ficou ali por um tempo. Ao contrário do parente, fez várias obras no lugarejo e ajudou muita gente. No entanto, alegando que tinha coisas urgentes para fazer na capital, vendeu todos os bens que o tio tinha deixado e partiu como veio, de repente, sem avisar nada! Ninguém suspeitava, claro… O Juca, porém, sabia que ela era a Mãe-de-ouro e estava por trás do sumiço do patrão.
O que aconteceu com o menino depois de toda a aventura?!? Bom… isso… é algo para vocês matutarem aí nas suas cabeças, porque eu não vou ficar fofocando sobre a vida alheia, não é?!
Sobre a lenda:
A mãe-de-ouro é uma lenda do folclore brasileiro, típica das regiões do interior do sudeste, centro-oeste e nordeste do país, surgida, provavelmente, durante o ciclo do ouro. Não é tão conhecida assim, mas tem mais de uma versão. A história que eu conto aqui para vocês é uma recriação, um reconto com esse personagem lendário de nosso folclore, aproveitando as características do mito.