Digicrônicas

Vai ser legal!

Por: Cristina Vergnano

A todas as crianças e à criança que existe em cada uma e cada um de nós, abertas à fantasia, capazes de descobrir beleza e encantamento nas mudanças.


— Celina, na sexta-feira, vamos fazer uma viagem de avião — foi a novidade que mamãe contou na hora da janta.

— Obaaaa, vou andar de avião! O papai não vai, mãe?

— Só no fim do mês. Antes, ele vai cuidar da nossa mudança.

— Mudança???????

Minha mãe tinha um novo trabalho em Belém e a gente ia morar lá.

— Vai ser legal, querida! É perto da floresta. — Comentou o meu pai.

— EU NÃO VOU! Aqui também tem floresta e os meus amigos.

— Volta já pra mesa, Celina.

— Deixa a menina, Paulo. Depois, falo com ela.

A sexta chegou muito rápido. No aeroporto, eu olhava tudo calada. A mamãe estava sorrindo. Eu, fazendo cara de braba.

Entramos pela barriga de uma minhoca gigante e chegamos na porta do avião. A aeromoça era uma bruxa com espinha no nariz e o avião, a vassoura dela disfarçada. E elas iam me levar embora.

A bruxa fingiu ser boazinha e me deu um desenho pra colorir. Pintei a vassoura de roxo bem escuro, quase preto. O avião saiu do chão e me deu um frio na barriga.

— Vai demorar, mãe?

— É longe, filha, continue pintando. Tome este bombom.

Na hora, de birra, eu não peguei. Só depois, quando a minha mãe não estava olhando. Eu amo chocolate!

Quando acabei de pintar, amassei o desenho, pra ver se a vassoura parava. Mas não parou, nem voltou pra casa.

— Ainda vai demorar?

— Encosta em mim, meu bem, e dorme, que passa mais rápido.

Deitei pro outro lado e fiquei olhando pela janela, mas não dava pra ver nada. Tentei, então, imaginar o que tinha lá embaixo: ruas, carros, plantas, bichos, pessoas. É tão difícil pensar em alguma coisa divertida quando a gente está zangada!

A parede era dura e machucava minha cabeça, mesmo assim, eu acabei dormindo. Acordei em Belém, meu rosto no colo da mamãe.

Um homem com riso bobo pegou a gente no aeroporto e dirigiu por uma estrada comprida. Minha mãe conversava com ele. Eu, puxava o cabelo de lã da Melissa.

— Chegamos, Celina! Feche os olhos — mamãe falou

— NÃO QUERO! — Reclamei, batendo os pés. As mãos dela, tapando minha visão.

— Agora, pode abrir.

Meus olhos viram a casa azul, o jardim, as flores, a grama, o pé de jabuticaba carregado, uma arara no coqueiro, um balanço na mangueira e duas meninas da minha idade, i-guai-zi-nhas.

— Vamos brincar? — Elas falaram ao mesmo tempo.

Nem pisquei. Abracei a Melissa, corri pras garotas e sumimos na mata encantada.


Imagem gratuita sob Licença de conteúdo do Pixabay, disponível no link https://pixabay.com/pt/vectors/avi%C3%A3o-desenho-animado-linha-arte-145480/ Acessada em 12/10/2024.

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