Agouro
Por: Cristina Vergnano
Todos diziam que superstição era coisa de gente antiga ou com pouco estudo. Ele, contudo, não gostava de dar mole para o azar e, naquele dia, estava incomodado. Tinha pegado a escala noturna, saindo já passada a meia-noite. “Justo numa sexta-feira treze, em agosto!”
De repente, todas as luzes do quarteirão se apagaram. Fez-se tal breu que a própria morte parecia passear pela rua. Paralisado, o homem tremia como vara verde. Não sabia se avançava, retornava à empresa ou ficava ali mesmo, esperando seu fim.
Um pio comprido se ouviu repetidas vezes, bater de asas sobrevoaram sua cabeça, ao longe, estourou algo. Os segundos pareciam horas, o suor porejava pela cara, o coração acelerava.
Uma luz bruxuleante veio descendo a rua em sua direção. “Alma penada ou a morte em meu encalço.” O foco bateu direto em seus olhos, cegando-o. Um vulto disforme postou-se diante dele. Depois, uma dor lancinante no coração.
Quando despertou, estava numa maca, fios no peito, tubo pendente do braço, máscara de oxigênio no rosto, a cara redonda e barbada do vigia encarando-o de perto.
– Cara, que susto! Você caiu durinho no chão. O paramédico diz que foi infarto. Vão levar você para o hospital agora, ok?!
Ele suspirou e fechou os olhos aliviado. “A vez teria sido de outro…”