Digicrônicas

Por falar em docentes…

Por: Cristina Vergnano

Há muitos anos, não me lembro bem onde ou de quem, ouvi que, na Grécia Antiga, os pedagogos eram escravos encarregados da instrução dos filhos de seus senhores. Na internet, se consegue confirmar a informação. Chego a achar o fato uma ironia cruel, quando penso na atual desvalorização da carreira docente, manifestada nos baixos salários a que tantos estão submetidos, nas condições difíceis de trabalho e no parco investimento em educação no nosso país.

Educar custa caro. Em sociedades baseadas no capital e na busca pelo lucro rápido, abundante e o mais fácil possível, considera-se que o investimento no campo educacional requer muito dinheiro e seu retorno demora a se manifestar. E, quando ocorre, não se caracteriza por ganhos diretos para quem investiu. É preciso ter grande contingente de professores para atender à quantidade de estudantes, se não se defende um ensino massificado. Isso, várias vezes, se usa como justificativa para pagar menos do que recebem outros profissionais com igual nível de especialização.

Um aspecto que constitui um mito e reforça, também, essa suposta falta de necessidade de salários mais competitivos é a associação entre magistério e sacerdócio. Nada mais injusto. Não só se trata de uma profissão, com demanda de sólida e contínua formação, como é a base sobre a qual se apoiam as demais carreiras. Afinal, quaisquer profissionais passam pelos bancos escolares para obterem sua capacitação. Ser uma atividade trabalhista intimamente ligada às relações humanas, cujo processo pode tanto instruir, incentivar e inspirar, quanto bloquear ou limitar os potenciais dos alunos, pode ser a chave para essa leitura equivocada e romântica. Acrescente-se o perfil majoritariamente feminino, em especial do Ensino Fundamental I, e o cenário para a redução salarial está completo.

Com uma supervalorização das carreiras glamorosas ou altamente rentáveis, vêm o menosprezo pelo magistério, a procura menor pelas licenciaturas ou cursos de pedagogia e os chavões preconceituosos. “Quem sabe faz, quem não sabe ensina”. “Profissão de esperar marido”. “Como uma pessoa tão inteligente vai ser professora?!”

No entanto, há aqueles para os quais o magistério ainda representa ascensão social e os que desejam viver essa experiência de formar, sentir-se construindo algo junto com outras pessoas. Além disso, encontramos, aqui e ali, demonstrações de reconhecimento, seja por alunos que se sentem acolhidos e estimulados, seja por pais, ou por gestores. A valorização de indivíduos acaba refletindo-se na carreira. E ao envolver, como disse, um relacionamento humano muito próximo, se transforma em carinho, recordações calorosas, admiração por aquelas e aqueles que contribuíram para nossas trajetórias particulares.

Não é uma profissão fácil. Pergunto-me se alguma realmente o será. Ainda assim, para aquelas e aqueles que decidimos segui-la, em meio a tantos tropeços, carências e desrespeitos, o valor dessa troca humana se entranha em nós. Com empenho e “sorte”, conseguimos chegar ao patamar de aprender enquanto ensinamos. Tocamos vidas e deixamos que elas nos toquem. No final, mesmo em pequenas doses, somos capazes de vislumbrar mudanças, transformações que, esperamos, nos conduzam a construir uma sociedade melhor.

Compartilhe!

Deixe um comentário