Calendário do Advento
Por: Cristina Vergnano
Anualmente nesta época, uma expectativa parece encher pessoas e lugares. Aumenta o calor (em nosso país e hemisfério, bem entendido!) e as cigarras cantam de forma mais intensa. Eu costumo dizer que o ar tem perfume de abacaxi, porque, quando criança, essa fruta não era comum em qualquer estação, intensificando-se justo nos meses de fim da primavera e do verão, mais doces e aromáticos. Era quando estavam sempre presentes lá em casa; daí a lembrança infantil. Nas ruas, surgem as luzes e os enfeites natalinos. Dois eventos, então, marcavam (e ainda marcam) este período: a proximidade das férias e a preparação para as festas de final de ano.
O Natal é uma festa religiosa, memória do nascimento de Jesus, da vinda de Deus feito homem para estar em nosso meio. Como tal, deveria revestir-se de atividade espiritual e sentimentos fraternos. Claro, nem todos são cristãos e, portanto, não comungam dessa crença. Ainda assim, paz, amor e boa vontade são compatíveis com qualquer um e podem transformar-se em ideal comum, permeando atitudes e iniciativas entre as pessoas, independente do credo. Isso seria ótimo, pois promoveria um movimento capaz de nos irmanar e construir uma realidade melhor (ou, ao menos, nos inspirar a tal).
Acontece, porém, que também acaba sendo uma excelente oportunidade de negócios e vendas. Nesse sentido, infelizmente, a perspectiva comercial se avoluma e absorve o caráter religioso da festividade, dando-lhe um tom bem mais profano. O afã pelas compras, pela aquisição de um pouco de tudo, para si ou como presente para outros, desvia o foco dos olhares e mentes. Jesus acaba em último plano, inclusive entre alguns cristãos. A publicidade tem importante papel nesse movimento, pois existe para seduzir e o consegue com grande maestria.
Que fique claro: não me oponho aos presentes, ao clima de festa, às comidas gostosas. Apenas destaco o fato, lamentando não deixarmos, em meio às seduções consumistas, o espaço devido para a essência do acontecimento comemorado. Para os que acreditam, é o cumprimento de uma promessa de amor: Deus conosco. Para os não crentes, mas que se importam, é uma época de solidariedade, de fomentar a paz e a compreensão.
Bem… neste ano de 2021, ouvi por duas vezes um termo até então desconhecido para mim: “calendário do advento”. Primeiro, numa loja de perfumes, sabonetes e cosméticos, num produto criado para a ocasião. Depois, numa comédia romântica com temática natalina. Chamou minha atenção, porque, como católica, sempre seguimos uma liturgia específica no Advento. Eu, contudo, não sabia do tal calendário. Esse tempo litúrgico ocorre nas quatro semanas que antecedem o Natal, um período de alegre expectativa e preparação para esse grande evento a ser rememorado.
Na dúvida, fui procurar referências para o termo e descobri ser um costume dos luteranos, os quais faziam (ou ainda fazem) a contagem regressiva para a festa. Também vi um blog com propostas educativas utilizando a ideia, a fim de diminuir a ansiedade e o consumismo, em especial, entre crianças.
Achei muito interessante e decidi criar minha própria versão. Vi que alguns usam uma casinha de madeira com números nas portas e janelas, um para cada dia antecedendo o Natal. Também há a tabela convencional de calendário ou uns saquinhos numerados pendurados em algum lugar de destaque. Em todos os casos, sempre há objetos significativos para a data, pensamentos ou atividades que remetem a essa reflexão própria do tempo natalino.
Meu marido sugeriu que eu construísse um pinheiro estilizado de isopor, cujas bolinhas teriam atrás um papel com as mensagens impressas, para serem lidas diariamente. Achei ótimo e passei do projeto à execução: um presente para dois de meus sobrinhos. Apenas decidi marcar só os dias do mês de dezembro, não os vinte e oito que compõem as quatro semanas do Advento, para facilitar tanto a confecção quanto a referência para as crianças ainda pequenas.
Penso que cada pessoa, caso se interesse, pode e deve elaborar sua versão do calendário, enfatizando elementos os quais lhe pareçam mais relevantes ou necessários àqueles que o utilizarão. No final, importa o princípio: estímulo à fraternidade, à reflexão, à espiritualidade (seja da crença que for).
Ah, realmente o mês de dezembro tem perfume de abacaxi! Amei o calendário!
Oi, Jake! Pois é… trata-se de um cheiro, em geral, meramente afetivo. Apesar de que, quando vamos à feira ou a um hortifruti, abacaxis em profusão podem, sim, deixar esse perfume no ar.
Quanto ao calendário, aproveite!!!! Bjs.