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Entrevista com Giselle Oliveira, uma autora e professora que começou no rádio

Por: Cristina Vergnano

Entre tantas situações ruins e angustiantes, a pandemia de Covid-19 parece ter fomentado algo positivo: uma abertura ao universo literário. Falo tanto do incremento da leitura, quanto da escrita e, por extensão, das oficinas e cursos de criação literária. Estas últimas atividades, proliferaram em modalidades remotas assíncronas e síncronas. E, para além do aspecto formativo, favoreceram o encontro e a troca. Foi nessas ocasiões que pude travar conhecimento com pessoas especiais, criativas, bem diferentes entre si, com muito a oferecer.

Hoje, vamos conversar com uma delas, multifacetada, com formação em Jornalismo e Letras, professora, mãe e escritora, Giselle Oliveira, uma das traçantes.


Cristina: Oi, Giselle. É um prazer ter você aqui no ToV, compartilhando conosco toda a sua experiência. Como falei na abertura, sua carreira começou no jornalismo, no qual você trabalhou com rádio. Mas, hoje, atua no magistério, ensinando português e literatura. Como foi essa trajetória e como essas duas experiências dialogam e contribuem para quem você é na atualidade, inclusive como escritora?

Giselle: Quando me formei em Jornalismo, na PUC, estagiava no jornal O Globo. Era uma idealista. Sonhava com o jornalismo cultural. Quando cheguei no jornal, fui cobrir Baixada Fluminense. Rsss… nada contra a Baixada, mas não era eu. Eu era literatura, cinema, música… Enfim, o período do estágio acabou e não fui contratada. Na faculdade, ensinam de tudo, menos a procurar emprego. Assim, sem saber como procurar emprego, um dia, encontrei nas barcas (voltando para Niterói), um amigo querido que me ofereceu uma vaga em escola. E passei a vida entre escolas e o jornalismo, não mais aquele jornalismo diário, mas um outro, que não conheci na faculdade. 

Cristina: Recentemente, você publicou um livro com outros três colegas. Poderia falar um pouco sobre ele: título, temática, gênero, processo criativo e editorial?

Giselle: “Cores no absurdo” foi uma experiência de união. Nós nos conhecemos no Clube de Autoria do Palavra Mágica, um curso tradicional em Niterói que abria espaço para a produção adulta. Uma das companheiras de grupo achava que devíamos reunir os textos produzidos e assim o fizemos. Na pandemia, esse tipo de curso estava bombando e com o nosso, não foi diferente. Reunimos quatro colegas e seus textos nessa publicação. Os perfis são os mais variados: uma professora de Literatura (eu!), um enólogo, uma tradutora e uma médica. Pronto! E com perfis tão variados, os textos não poderiam ser uniformes; obedecem a pluralidade de seus criadores. São contos e poemas com as temáticas amplas. Eu falo de maternidade, de questões raciais e sociais, de religião, falo de vida e morte. Devemos à Geísa Figueiredo toda organização do material e à Teia de Histórias a produção editorial.

Cristina: Além desta publicação, você também teve textos selecionados no Prêmio Off FLIP 2022. Que textos foram estes? Qual a importância de participar de um concurso dessa natureza? Como vê os concursos literários na carreira dos escritores, em especial dos iniciantes?

Giselle: Eu nunca me inscrevi em um prêmio literário, mas uma amiga muito querida, escritora, sempre me disse que o melhor caminho para começar era estar nesses prêmios. Coloquei minha cara a tapa, inscrevi-me nas três categorias possíveis (contos, crônicas e poemas) e fui selecionada nas três. Mas, finalista mesmo, fiquei na categoria poemas com meu texto “Perfeição”. Colocar seu texto à prova em um concurso é fundamental para ganhar maturidade na escrita, é muito bom saber o que pensam sobre o que escrevemos.

Cristina: Você é mestra em literatura e sua pesquisa envolveu diálogo entre linguagens, não foi? Como esta sua etapa de pesquisadora se conecta com seu lado docente e com a Giselle autora?

Giselle: No mestrado, pesquisei a relação entre música e poesia. Meu objetivo era ler o Brasil do pós-ditadura nas canções da Legião Urbana. Foi uma experiência incrível! Minha linha de pesquisa se chamava Literatura e outras artes. Acho que sou exatamente isso, uma pessoa ligada em arte, beleza em suas diversas manifestações. Admiro aquilo que pode emergir da experiência estética do ser humano. Isso me toca, emociona mesmo. A Giselle autora mistura muito a questão social (também amo História) com a produção literária. Tem uma veia política que pulsa forte dentro de mim. Eu não saio por aí com bandeiras; eu me posiciono em meus textos. 

Cristina: Fala-se que os brasileiros leem pouco e precariamente. Também, que a leitura é muito importante para a formação do pensamento crítico, do desenvolvimento da linguagem e, claro, para a atuação como escritor. Como você comentaria esses aspectos, desde a perspectiva de uma professora de literatura e autora?

Giselle: A gente aprende a gostar de feijão e arroz, a gente aprende a gostar de viajar, a gente aprende a gostar de ler. Mas é preciso que se ensine. Sou uma professora apaixonada pela Literatura e tento mostrar isso na sala de aula. Dia desses, lia um trecho de um livro juvenil e meus alunos me pediram para não parar. A aula já tinha acabado e eles queriam mais! Isso é a glória! Eles gostam, eles querem; nós precisamos escolher muito bem o que será lido. Curadoria não é um trabalho fácil, exige muita leitura, muito descarte e muita entrega. Também exige respeito pelo escritor e pelo leitor. Acredito, de verdade, que se as pessoas aprendessem a silenciar um pouquinho, elas amariam ler. É que o mundo está muito barulhento e ler, quase sempre, é um prazer solitário. O mundo não admite mais a solidão. Solidão só rima com depressão, mas é bem diferente. Também temos hoje os clubes de leitura. Caramba, é bom demais! Ler e poder partilhar com outros que leram a mesma obra as diversas impressões. Que espetáculo!

Cristina: De fato, há muita gente, embora não pareça a princípio, interessada por leitura. E, precisamos mesmo aceitar a beleza do silêncio e como pode ser uma experiência rica. E, já que falou no ensino, como seu trabalho de escritora se relaciona com a Giselle professora e que impacto tem nos seus alunos?

Giselle: Hoje, quando estou lendo determinada obra com meus alunos, ouso ler também alguma produção minha. Não é para aparecer, mas para dizer a eles que, ontem, foram outros autores; hoje, sou eu; amanhã, serão eles. Cada um buscará na vida sua forma de se inscrever no mundo; eu encontrei a minha.

Cristina: Bem legal isso de ler seus textos para os alunos. Não acho que seja para aparecer (rs,rs,rs); torna os autores mais concretos e próximos.

Nós nos conhecemos numa oficina de criação literária. O que você opina sobre esse tipo de formação para a carreira de escritor e como participar delas influenciou sua atividade de escrita?

Giselle: Parece que ser formada em Jornalismo e Letras, mestre em Literatura, te dá toda a base necessária para escrever. Não! As oficinas foram e são fundamentais para mim. Hoje, estou à frente de um Clube de Autoria e de um Clube de Leitura. Não poderia estar mais feliz! Quero proporcionar a todo mundo que chegar coragem para se colocar, para se derramar, seja na leitura ou na escrita.

Cristina: Você deve ter jovens alunos e alunas que manifestam o interesse em se tornar escritores e escritoras. Vocês conversam a respeito? Que conselhos e orientações você costuma lhes dar?

Giselle: Tenho sim. Alguns me pedem para ler seus textos. E eu leio. Converso com eles que existem os escritores que só vivem disso (POUCOS!). E existe gente normal, que escreve e submete seus textos às editoras. Às vezes recebe um sim, outras, um não. Há portas que se abrem, portas que se fecham. E assim, nossos textos vão sendo semeados no mundo. Quando leio o texto dos meus alunos, tento fazê-lo com o maior respeito porque sei que ali pode estar escondido um escritor que ainda vai desabrochar. Ele precisa de palavras positivas e generosas para continuar nesse caminho. O mundo já é muito duro com a gente; quero ser afago e ânimo para quem passar por mim.

Cristina: Acho que essa base de confiança que está construindo com eles pode gerar belas histórias de vida e de carreira literário. Assim espero. Conte-nos um pouco sobre seus projetos futuros.

Giselle: No momento, quero frear um pouco o ritmo da vida para conseguir dedicar-me mais tanto à escrita quanto às leituras. Meu sonho sempre foi um ano sabático; ele nunca aconteceu. Então, vou tentando administrar a vida de mãe, professora, esposa, escritora e tudo mais porque eu adoro esse tudo mais que você ainda nem sabe o que é! Por exemplo, na semana passada, fechei um contrato com uma editora para a produção de podcasts para esse grupo. Eu gosto de lembrar sempre Mário de Andrade: “Eu sou trezentos/ trezentos e cinquenta”. Adoro essa multiplicidade de fazeres.

Cristina: Giselle, você sem dúvida é elétrica e tem muito fôlego! Antes de terminarmos, gostaria de acrescentar algo mais sobre os temas que abordamos ou que acabou ficando de fora?

Giselle: Gosto de publicar, de forma livre, notícias sobre o meu fazer literário na página @gostolivro.

Será uma honra receber lá quem se interessar pelo que escrevo.

Cristina: Faço votos de que esta entrevista ajude a apresentá-la a novos leitores, pois seu trabalho é muito interessante. Quero agradecer a gentileza em aceitar o convite para participar desta entrevista para o ToV. Foi um prazer e estou certa de que nossos leitores vão curtir bastante.

Giselle: É uma honra estar nesse grupo, dividir o espaço com gente tão apaixonada pela Literatura. Agradeço!


Nota: Caso tenham interesse, vocês podem seguir a autora no seu Instagram:  @gostodelivro ou obter outras informações no seu Linkedin.

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